terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Um poema para Diana

Não entendemos o suicídio.
Ouvimos, sabemos,
Mas não o entendemos.
Não o aceitamos.
Se alguém próximo e querido
Acomete-se desse ato,
A reação imediata é o espanto.
A consternação. Dor!
Para os que ficam
Por esse estranho mundo
Que nos humilha, nos enoja e fascina,
Quando nos transporta a consciência
Ao universo fantástico em que vivemos,
E nos revela nossa própria insignificância.
Heródoto nos alerta
Que por ser a vida trabalhosa,
A morte é para o homem
O mais desejado refúgio.
Deus nos dá a provar o doce da vida,
Mas logo sente inveja
Da sua própria dádiva.*
Pai da estratégia e crescente biografia,
Ao fim do esforço de uma vida,
Sabendo de sua Cartago aniquilada,
Depara-se Aníbal estratego na Bitínia.
Enfim traído e acossado,
Nova esquiva lhe furta o pensamento,
Mas apenas dita a Hiplos Barca, seu escravo:
Os que me amavam
E que eu amava estão mortos.
Tenho sessenta e quatro anos.
Eis uma bela idade para morrer.
A nuvem de poeira anuncia os romanos.
Livremo-los de suas inquietações,
Já que não têm paciência
De esperar pela morte
De um odiado ancião.
Cada um tem suas razões
De viver e morrer.
Não cabe a ninguém julgar.
Se lamentamos é porque amamos:
Não à conformidade da perda.
A sensibilidade individual
Estabelece o limiar entre vida e morte.
Cada um é dono de si.
Um poema para Diana.

*Juan Eslava Galán, historiador.

Para minha amiga Diana Vieira(in memória)

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