segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Eu vi, não acreditei

Mês de maio,
Puxa vida, mês de maio...
Tristes avós e mãe!
Fim de tarde e já não era dia.
Foi em pleno sábado.
A Renata foi embora
Num sábado de alegria.
A pior notícia ouvida,
A mais sofrida dor,
Como dói esta dor!
Eu ouvi, não acreditei.
Nunca se acredita.
Ouve-se, mas não se acredita.
É o ráio que nos atinge mesmo.
O ráio fulminante que paralisa,
Rasga o peito e martiriza,
Nos faz vagar dez anos a ermo.
Como o que vi
No lago quatro vezes cair,
E pensei sem pernas:
Eu bem queria estar ali
Quatro vezes!
Sim, as pernas!
Faltaram mesmo as pernas,
Ou sumiu o chão aos pés.
Eu não era eu,
Não sei quem era.
Talvez algum demente,
Espectro errante de gente
Que a vida esqueceu
Ou levou embora.
A voz embarga,
A língua não deixa,
Vem à boca o amargo gosto
De súbito desgosto,
Que o vazio nos deixa.
A vista opaca, a mente turva.
A mente pensa em nada,
Os olhos enxergam o vácuo.
Os amigos nos cercam,
E vem o dopping,
E já não lembro
O que vi ou se era ilusão.
Sei que havia o caixão
Entre pessoas que conversavam mudas.
Eu não queria vê-la.
E vi uma criança
De rosto opaco à lembrança,
Que a dó das lágrimas cortinam.
Parte do meu ser
Que veio ao mundo
E me levou junto
Em dez de maio
De oitenta e seis.
Por que temos que ver?
Eu vi, não sei vi,
Não acreditei.
Nunca se acredita.

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