terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Jangada

Nave primitiva, não imagina
Quem na água a vê, o árduo afã
De homens que sabem vã
Pode ser da viagem a rotina.

Que na orla cedo inicia
Quando quebra no barco a vaga,
Fá-lo subir e ligeiro esmaga
A mesma água que singra e acaricia.

Suspense é o momento que assiste,
Que faz fluir o sangue
Como mar no mangue,
Quando da força a maré insiste.

Mas ganha o mar a vela,
Sujeita às forças que lhe espreitam.
O sol e a lida por vir esperam,
Urge-lhe a vida e não protela.

Só ao longe, muito longe some,
Aos olhos só cansam e não vêem,
Após a fadiga do percurso terem,
Fixa-lhe o lugar a fateixa é o nome.

A praça da faina tem sua vida.
O sono úmido no convés se reveza
Pela cavala que ao sorriso embeleza,
Após luta, já sangra combalida.

Ao peixe no convés molhado,
Que fisgado é alimento e dinheiro,
Após abrasar dia inteiro,
O que foi chão também é telhado.

Neste chão que a vaga lava,
Onde a paz cozinha a comida,
Testemunha garra desmedida,
Que só se revela ao céu e à água.

Mas se lhe acirra a vaga o temporal,
Onde quer que a vista aponte,
As vagas roubam o horizonte
E tão forte se mostra esta nau!

Suspense é o momento que assiste,
Que faz fluir o sangue,
Que faz com que o mar se zangue,
Quando da força a tormenta investe.

Impiedosa o costado lhe espanca.
Rasga-lhe já remendada vela,
Brutal lhe parte a retranca,
Um faz falta, mas não singra sem ela.

Meninos ainda se fizeram ao mar,
Homens rijos, de vida simples,
Em farrapos sem que se queixem,
Curtidos ao sol, ao perigo do alto mar.

No mar que absorve uma vida,
Segue a incerteza a nave pluma,
Vela curva ao vento a valuma
No deserto de água a vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário