terça-feira, 30 de março de 2010

Brasília


Jovem, muito jovem,
Nos idos da vida, no início,
Vim como sem sacrifício,
Ao jovem tal lhe convém.
Da esplanada a surpresa inicial.
A estrutura destas vias circulando,
Horizonte livre em torno guardando
Ordenada arquitetura espacial.
Surge no planalto destes confins,
Onde cobre o cerrado as colinas,
Irrigada por águas cristalinas.
Uma cidade! Quem a pensaria assim?
Fluídas inigualáveis visuais,
Verdes tons que à vista contentam,
Azuis de alvoradas que encantam,
Crepúsculos assim jamais.
Brasília é luz! Brasília é ar puro!
Céu de estrelas em noites de lua cheia,
Há quem duvide, mas há uma sereia,
Doce canta às margens do lago escuro.
Céu puríssimo azul claro ou anil,
De paisagens bucólicas,
De tardes lindas, púrpuras, frias,
Onde Dom Bosco previu.
Mas este céu assiste e sangra inteiro
Por homens que do país o destino
Foi confiado e está ao desatino,
Salvo Ulisses, um guerreiro.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O amor não tem fronteira

O ar não tem fronteira.
O rio não tem fronteira.
O mar não tem fronteira.
O cosmo não tem fronteira.
O sonho não tem fronteira.

De que valem estes marcos de pedra,
Se muito além destas montanhas,
Do ritmo destas vagas,
Das copas desta selva,
Deste rio já correm estas águas?
E nele percorrem livres tantos peixes,
Tanta vida, tanta vida...
Que representam estes limites,
Se do ar que respiro,
Transforma-o em novo
A pródiga natureza;
E meu corpo alimenta sua vida,
E sem ele inevitável sucumbe,
E toda vida na terra expira
E é o mesmo para todos?

Apenas é relevante ou existe
O que já existia.
O que não foi imposto
Pela ganância ou pelo temor.
Por que para muitos é invisível,
Se alguns já vislumbraram?
(“You may say that I’m a dreamer,
But I’m not the only one”!)*
A única fronteira é o limite
Entre a sanidade e a loucura;
Entre o milagre da vida
E o vazio da morte.
Esta angústia desfar-se-á em abraços
Quando velas brancas, coloridas,
Sinceros sorrisos e esperança
Dos lugares mais longínquos
Apontarem de todos os lados
Ao horizonte desta utopia perseguida:
O amor não tem fronteira!

*John Lenon.

Bentevis

Dois bentevis no alto da palmeira.
Um gorjeia, outro desce rasante,
Confunde-se numa rosa amarela.

O perigo. O ninho. O gavião.
Um bravo gorjeia: Tevi! Tevi!
Outro ataca, guerra no ar!
Bicadas e revolução.
Penas ao vento, foge o gavião.

Dois bentevis no alto da palmeira.
Um sobe ao céu.
Outro faz um cortejo.
Uma evolução, um gorjeio.
Dois bentevis, amor e natureza.

O que sobe eras tu.
O outro, o que beija,
Sou eu, minha rosa amarela.

terça-feira, 9 de março de 2010

Terra brasileira

Por grotas secas e as pedras,
Onde assola o seio da terra,
O sol pára no céu e mira:
Há um homem que espera.

Na orla, nos confins do agreste,
Suga sua essência um poder medieval,
A intempérie e a desgraça;
Atrás deste brasileiro surge o nordeste.

Fizeram do discurso escola de trevas,
A infâmia e a hipocrisia.
Urda o tempo a promessa e a mentira
E ao quinhão de terra que se adia,
Há um homem que não se entrega.

Cecília mutilada

Não canto porque o momento é triste.
Não corro pelos canteiros,
Pois do verso o gosto nem tão verdadeiro
Do que era alegre está bem triste.
Ter no mato o gosto de framboesa!
Ora, quem não queria,
Em belos versos dessa mesma poesia,
Ter pensamento e autoria?
Num insulto a vilania
De indignação nos cobre,
Como rapina torpe
Dos versos de Cecília se apropria.
Grande Cecília!Que versos!Uma fada!
Sorrateiro como bicho de peçonha,
Seus versos desfigura e de vergonha
Vemos uma Cecília mutilada.
Assim de poetas: Floberla;
Lorca; de Patativa, sua Sina,
Uma oportunista mazela
Berra seus versos e assina.
Impossível dos autores não saber
Pois além fronteiras estão os versos
E não há neste universo
Quem não se indigne ao perceber.
Pode um ser esclarecido ao sortilégio
Querer se não indigno,
O sucesso a qualquer custo se não maligno,
Usar de baixo sacrilégio?
Só a mente insana
Ou de mau caráter possuída,
Ousar de atitude vil,
Abominável e infame.
Será o único a não saber
Que ato inescrupuloso
É próprio ou mister
De maldito ou criminoso?
Se não bastante fora o plágio,
Por essa e mais uma dor,
Avilta a poesia o larápio
Em voz terrível usurpador.