segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A rosa dourada

O vestido branco o corpo lhe dourava
E eu sem saber como surgiu, em que instante.

Confundia-se aos astros no céu infinito,
Bela, surgiu única às outras.

Ela estava linda naquela noite!

Como brilho de uma estrela,
Ela estava linda naquela noite!

Em meio à multidão em enxame,
Surpreenderam-me seus olhos de diamante.

Seu corpo girava e ela estava feliz.
Podia sentir-lhe meu peito o coração querido.

Queriam meus olhos lhe beijar a boca rosada,
Meu coração dar-lhe o abrigo.

Meu olhar como náufrago
Derivava para a enseada do seu riso.

Como é alta esta barreira
Que perto nos separa agora!

Como dói não ter seu perfume
E ter de seus olhos o convite!

Já me inunda como oceano,
Um jorro de angústia incessante.

Quem é livre deste jorro que aparece,
Enche as veias e turva meus sentidos?

A noite segue a brisa do vento,
Voam as pessoas, a música dança seus risos.

Muito além das outras, todas de branco,
Ainda não lhe encobrem, musa do lume!

Tampouco, rosa, lhe tinge as pétalas,
Este coral de vozes secretas.

Ninguém. Só tu e eu, a lua parada,
Vimos todo o céu branco.

As luzes tornam iguais os rostos,
Mas em meu peito seus olhos escutam o canto.

Assim ela, seu corpo de sonho, eram só sorrisos,
E a noite tecia aos poucos os fios do meu castigo.

Quanto queria lhe falar em uma palavra,
Em breve sussurro, meu coração aflito!

Dos rostos, fogos, mil rostos,
Guardei-lhe a fina cintura, os olhos de diamante.

E agora pela noite apagada,
Choram meus versos, meu coração fendido.

Que amor poderíamos ter sido!
Ela era a mais linda naquela noite!

Assim um meteoro riscou o céu,
A multidão ficou deserta, e estou infeliz.

A nostalgia adona-se da alma,
O sereno avança pela noite.

“Posso escrever os versos mais tristes esta noite”.*

*Pablo Neruda

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