Para Antonio Cãopelo e Joaquim Capaxo
Nós somos os homens sem escrúpulos.
Vivemos pelo fausto deslumbrados,
Ávidos por tudo beneméritos,
Mas somos da verdade sempre esquivos,
Aqueles da mentira sempre dúbios.
Infortúnio é somente o descuido,
Quando escroques nos revela de pronto.
Sem índole, sem remorso,
Sem pena, sem dor,
Sem brio, sem honra.
Mesquinhos e venais,
Obtemos o que queremos
Por qualquer meio escuso.
Nós somos os homens sem escrúpulos.
Nosso caminho funda-se e é respaldo
Da universal infâmia.
O vácuo como essência.
O ar solene abraçamos,
Mas sob o ouro da arrogância
Não há nada.
Aqui é a terra dos homens sem escrúpulos,
Aqui a ética não brota.
O jardim que a aparência esmera,
Do mal miméticas flores cultiva.
Enquanto movem-se espectrais pelo cinismo,
Riso por nossas bocas desditas.
E na ânsia pelo lucro indevido
Funesto regozijo habita:
O sucesso a qualquer custo,
Nada mais importa.
Somos o aborto da ganância.
Nossa real emoção caracterizam as cifras.
O malefício em nós impregnados,
Palavras inexpressas o perfil proclama
A inumerável face:
Corruptos de toda ordem
Para todos os fins.
Bajuladores e outros mentirosos.
Farsantes. Plagiadores.
Grileiros. Contrabandistas.
Estelionatários. Fraudadores.
Perversores. Perniciosos.
Certos senhores da justiça
Que fazem da verdade o ermo.*
Criminosos de toda espécie.
Tiranos. Falsos democratas,
Os que vêm mérito em governar miséria.
Aparentamos tantos e somos os mesmos,
Somos os homens sem escrúpulos.
Quando poderosos,
Mais inescrupulosos somos,
Avessos a qualquer virtude escassa,
E usufruimos da facilidade
Porque nos servem gente lacaia.
Condição que se esmera
Substantiva do próprio degrado
Nos mais desprezíveis da terra.
E mais servis são pelas migalhas
Que nossa vilã soberba lhes amassa.
Por isso também sem brio, sem honra,
Sem pena, sem dor,
Sem índole, sem remorso.
E na baixeza dos meios empregados,
Somos execráveis de todo,
Somos de todo falsos ilustres.
Nós, lacaios e poderosos,
Somos iguais inescrupulosos
De mesma escória formados,
Idênticos vazios de alma.
Somos todos vis de mesma laia!
Ao suborno dos responsáveis,
Das cidades infringimos os códigos,
Sem que se saiba o mal que causamos
E a hipocrisia veicula
como numa alusão a pródigos;
Das terras nos apropriamos;
Poluímos o ar e a água;
Extinguimos os índios e devastamos florestas,
Causamos a fome de milhares e injúria
Ao lesar tesouros
E o ludíbrio das pátrias.
Somos tais os carentes do amor de mãe,
Também do valor do próprio pai,
Como os párias sem culpa,
Tampouco são como nós somos,
Frios de mau caráter,
Em todas as línguas de igual significado:
Somos os autênticos filhos da puta!
quarta-feira, 28 de abril de 2010
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