quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Primeiras palavras

As primeiras palavras. O primeiro encontro.
Palavras que não acho deixam-me aflito.

Ela sorri. Ela é bonita!
A noite chega-nos a sós para meu espanto.

Nas palmeiras o vento refrata como um grito.
Ela me envolve suave como um manto.

Brilham as luzes seus olhos coloridos.
Surpreende-me sua boca e me encanto.

Como não amar o sorriso doce, seu gesto querido?
Palavras como um rio fluem para as águas do seu remanso.

É certo, queria seu abraço e seu beijo.
Palavras inexatas alegram meu ouvido.

Quanto queria tê-la meu coração aflito!
A hora implacável proclama meu pranto.

E aquele sorriso que ainda vejo
Foram mais palavras que tenha entendido.

A noite em todos chega como um canto.
A mim como uma pena: deserto e consumido.

Onde estará a dona do meu desejo?
Desenho seu rosto nas nuvens sob o céu infinito.

Meu abraço solitário bem a quis.
Meus olhos beijado seus olhos vivos.

Como ter seu calor benfazejo?
Meu coração em seu peito o abrigo?

A lua redonda e baixa emoldura minha janela.
A noite meu anseio dolorido.

Porque esta noite eu bem a quis como aquela.
Minha alma insone reclama meu olhar perdido.

Sua imagem vem com a aurora e o luar.
Eu rindo de mim mesmo sem acalanto.

A poesia transcende tempo e espaço, matéria e espírito,
Mas eu sei que vou te amar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Temudjin

No mar de capim da esquecida Mongólia surge a lenda:
Abandonados pela tribo uma mãe como loba e filhotes.
Quem teria sobrevivido às tirânicas intempéries?
E por anos a fio,
Após cavalgar por geladas planícies,
Uniram os lobos azuis
A cólera do Pai Céu e Mãe Terra
Pelas tribos dispersas
E calaram os tártaros.
Foram felizes como crianças brincando,
O arco e o potro eram suas mãos e alma.
Ungidos pelo calor e o frio,
Implacáveis como o fogo.
Impetuosos como avalanche,
Velozes como o silvo de suas setas.
Dispararam arcos mortíferos,
Suplantaram montanhas e desertos.
Eí-los agora sobre vastidões intocadas
Dos seculares senhores de sua cizânia.
Uma a uma caíram suas cidades
Que as muralhas de Yensing*
Choraram de fome.
Tomaram mulheres
E espalharam sementes pela terra.
Pilharam o ouro e a seda.
Fizeram o diabo erguer o fumo
Sobre os horizontes.
Subjugaram as dinastias Jin e Song,
E nada sobraria se a humilhação não saciasse
Seus corações sedentos de sangue.
Esgotaram todas as direções
E cruzaram a neve.
Dobraram o Dnieper e assenhoram-se da Rússia.
Bateram os Bálcãs e cansaram-se de conquistas.
Por fim, estacaram o medo
Retirando as patas dos potros
Das portas do ocidente.
E nada ditaram ao escriba
Porque não havia escriba pra seus ditados.
Como que só o vento
Fosse-lhes o arauto aos nossos dias.

*Pequim